sábado, 21 de abril de 2012

Análise crítica à composição dos exercícios de algumas das melhores ginastas portuguesas de GR

Vendo os videos de Pesaro que já estão disponíveis e muitos dos videos do André Reis não posso ficar indiferente  ao facto de ver tão boas ginastas com exercícios coreograficamente tão fraquinhos. Sei que muitos de vocês me vão "saltar em cima" mas mesmo assim prefiro dar a minha opinião como treinadora de algumas das ginastas do topo do ranking nacional da Bulgária e juíz activa da modalidade. Se pelo menos uma ou duas pessoas lerem o que escrevi até ao fim já valeu a pena o tempo que "perdi".

Uma das estratégias para conseguir que ginastas tecnicamente ou esteticamente não tão perfeitas e apreciadas como as que estão "na moda" sejam faladas lá fora é exactamente ter uma boa composição que fique na memória.

Peço que não haja ofendidas com os exemplos que partilhei!!! Se as houver que me contactem e os seus nomes serão apagados e os videos trocados por outros!!  Se bem que, vendo as coisas do lado positivo, até é um grande elogio estarem nesta lista porque não estou a procurar agora de propósito mas estou a "escolhê-las" conforme o que me vem à memória. E isso só quer dizer que são boas ginastas. Óbvio que predominarão os clubes que têm as melhores ginastas do país neste momento mais isso não é o mais importante. Tentem abstrair-se da ginasta em si!!

Aqui estão alguns dos critérios de avaliação relativos às composições dos exercícios de GR que nós útilizamos aqui na Bulgária. Adicionei algumas definições e exemplos!!

1.2.1 Ocupação relativamente igual das duas metades (triângulos) do praticável - vendo o praticável da mesa de juizes ou da bancada podemos dividir o praticavel através de uma linha imaginaria que pode partir do canto esquerdo de trás até ao canto direito da frento ou do canto direito de trás até ao canto esquerdo da frente. O exercício não deve predominar num dos triângulos. No caso deste bonito exercício, se a linha imaginaria for do canto direito de trás até ao canto esquerdo da frente o exercício quase todo é realizado na metade de trás e a única passagem pela da frente é desde 1:07 até 1:20 (aproximadamente.) Ou seja, nem chega a 15 segundos dos 90 que o exercício dura. À parte disso adoro a relação música-movimento e a expressividade!!! 


1.2.2 Passagem pelos quatro cantos do praticável - a passagem pelos cantos do praticável mostara que a ginasta está à vontade e não tem "medo" da linha vermelha. Dá um ar maisdinâmico e amplo ao exercício em geral  e as coisas não estão tão umas em cima das outras. Aqui está um exercício que de ponto de vista da ocupação do espaço está bastante bom!!


1.2.3 Erros coreográficos das direcções dos deslocamentos - Quando a ginasta utiliza uma diagonal (por exemplo) para se deslocar não deve de forma nenhuma voltar para trás, ou seja, não deve usar logo de seguida a mesma diagonal no sentido contrário (nós chamamos-lhe o "ida e volta"). Isto torna a ocupação do espaço aborrecida  e tira amplitude de deslocamentos ao exercício em geral. O ângulo entre as linhas pelas quais a ginasta se desloca deve ser pelo menos de 45º (ver 1:15-1:20)


1.2.4 Erros coreográficos das direcções de execução dos elementos - tem-se em atenção priopitariamente quando os movimentos da ginasta são rotativos (pivots, saltos com rotação, voltas em pé ou no chão, flexibilidades etc.) Um movimento que seja efectuado com rotação em sentido ao ombro direito da ginasta não deve ser seguido directamente de um na direção do lado esquerdo. Para isso acontecer deve haver algum movimento estatico pelo meio ou uma deslocação no espaço (preferível deslocação mas depende do que a música "pede" na dada altura da composição. (ver 1:28-1:38) os 3 movimentos de rotação nao deveriam estar combinado desta forma. Isto dá uma ideia de execução confusa e pouco fluida.


1.2.5 Variedade dos elementos de D1 - não exagerar nas repetições das formas dos elementos corporais (muitas pranchas faciais ou laterais, muitos cossacos, muitos elementos a agarrar a perna atrás etc...) No máximo dois elementos com formas idênticas chegam!!



1.2.6 Variedade dos elementos de D2 -Falta de variedade por exemplo nos rolamentos nos exercícios de bola. Neste exercício a utilização do rolamento da bola pelos dois braços ao mesmo tempo está exagerado. Dos 10 momentos em que a bola rola pelo corpo só um dos rolamentos é que é de um braço para o outro. O rolamento pelos dois braços a terminar atrás da cabeça/costas é realizado cinco vezes. ver: 0:19, 0:30, 0:40, 1:17, 1:28


1.2.8 Ligação música movimento coreograficamente correcta- nas partes mais lentas da música não é aconselhavel efectuar saltos ... Nas partes rápidas não convem estar a realizar elementos estaticos ou no chão... Alternar o rítmo com que os elementos são executados conforme a mudança de ritmo da música. Cada marcação mais forte da música deve ser marcada com movimentos fortes tb...


1.2.9 Interpretação correcta da música variedade dos passos ritmicos e marcações expressivas. É muito importante que os passos rítmicos estejam de acordo com o carácter da música e que sejam variados (não repetir marcações ou passos rítmicos). Este exercício por exemplo está giro e a escolha da música muito adequada e inovadora mas os passos rítmicos/marcações com o pé flectido e o calcanhar no chão estão um pouco exageradas. Ver: 0:20, 0:50, 1:11, 1:19 Pelo que dá para ouvir parecem-me acordes tradicionais gregos mas uma versão moderna. O espírito grego não está nada representado.


1.2.10 Ligações lógicas entre os elementos- a posição naqual termina um movimento deve ser a posição daqual começa o movimento seguinte. Sugiro este exercício. Se nos abstrairmos das falhinhas de aparelho dá para ver que a sequência dos movimentos foi tida em conta como um todo e não como "colar" elementos soltos sem lógica nenhuma.


1.2.12 Estatismos coreográficos  - este é fácil de perceber. Nos exercícios destas ginastas podem ver como elas passam muito tempo do exercício no mesmo sítio do praticavel:
1- primeiros 27 seg relativamento no mesmo sítio Maria Canilhas bola
2- primeiros 34 seg relativamente no mesmo sítio dos quais 18 no chão Patrícia Silva bola
3- cerca de 20 seg relativamente no mesmo sítio (0:28-0:48) Adriana Santos arco

etc... é um dos erros muito comuns!!!

1.2.14 Passagens pelo chão lógicas - a passagem pelo chão (joelhos, sentado, deitado etc...) deve ser combinada com uma descida/subida lógica e não ir ao chão receber o aparelho porque dá mais umas décimas no D2 e levantar logo a seguir (ver 0:44)



1.2.15 Os elementos no chão não devem no geral ser mais do que 1/3 do exercício. Ou seja dos 90seg. é aceitavel 30seg serem no chão. Claro que ninguém está a cornometrar nas provas mas os exercícios no chão tornam-se estaticos e começam a parecer apresentações de contorcionismo.

Bom, a quemconseguiu ter paciência para ler esta análise crítica até ao fim, o meu grande OBRIGADO.
Um beijinho especial a todas as ginastas que foram aqui mencionadas e às respectivas treinadoras às quais tenho o maior respeito! Um beijinho especial tb a todas as que não estão neste post mas que não estão esquecidas... Estou longe mas estou atenta!!! :))

Continuem a trabalhar para mostrarem o melhor que sabem fazer: Ginástica Rítmica...
Quero-vos ver a brilhar.
FORÇA.

Caterina Ivanova

8 comentários:

Profª de EDF disse...

Caty... Parabéns, miúda! Comentários interessantes e válidos. Não me parece que alguém tenha que levar a mal, pelo contrário. Era bom se mais houvesse, se na GR as treinadoras e juízes trabalhassem de forma colaborativa, no treino, como uma mais-valia, numa perspetiva formativa, para bem da disciplina: GR. Gostei! Valeu!

Profª de EDF disse...

Caty... Parabéns, miúda! Comentários interessantes e válidos. Não me parece que alguém tenha que levar a mal, pelo contrário. Era bom se mais houvesse, se na GR as treinadoras e juízes trabalhassem de forma colaborativa, no treino, como uma mais-valia, numa perspetiva formativa, para bem da disciplina: GR. Gostei! Valeu!

Profª de EDF disse...

Caty... parabéns, miúda! Gostei! Valeu!

FTrigo disse...

Olá Katerina,

Obrigada por estares tão atenta à rítmica em Portugal.
Sei o quanto gostas desta modalidade e o quanto aprendeste na Bulgária.
Quanto às tuas "críticas", penso que é sempre positivo e formativo ouvir outras opiniões/sugestões pois é com estas partilhas que se pode crescer, seja qual for a modalidade, ciência, projecto...
Jinhos e até breve.

Paulo Canilhas disse...

Análise muito interessante.
Também acho que muitas vezes a composição não parece tão bem porque as ginastas decidem 'recriar-se' um pouco durante o exercício. :) Acontece.

Ficou a parecer o início de uma coisa bem mais extensa.

Caterina Ivanova disse...

Olá amigos! Obrigaod pelos vossos comentários. Só hoje apareceram porque estão sujeitos a moderação.

Fico contente por as minhas críticas terem sido tão lidas neste curto espaço de tempo... Espero não ter sido mal interpretada.

Prometo voltar ao blog que esteve um pouco esquecido com a história do facebook.

Beijinho a todos!

Anónimo disse...

Só hoje li, e, embora não perceba nada da modalidade, sei do que gosto e do que não gosto, do que fere a minha sensibilidade ou do que me encanta! E, de facto, os comentários da Kateryna vêm ao encontro do que sinto quando vejo estes ou outros esquemas, sobretudo no que diz respeito à fronteiro entre a RG e o contorcionismo. Custa-me sempre ver ginastas tocarem o limiar do circo, que tem o seu lugar indubitavelmente!
Parabéns,Kateryna, pela 'coragem' de dizer o que pensa num país de brandos comentários, sobretudo pela humildade com que os faz e com a clara intenção de ajudar a fazer melhor! Bem-haja por isso.
teresa rino

Caterina Ivanova disse...

Obrigado pela sua visita e pelo seu comentario Teresa Rino. Cumprimentos,
Katerina Ivanova